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Artigo do Roberto Leite no blog “Testando os limites da sustentabilidade”

Roberto Leite é um dos colaboradores do blog “Testando os limites da sustentabilidade”, lançado há pouco mais de sete meses. O objetivo do canal eletrônico é analisar a qualidade dos balanços sociais apresentados pelas empresas, a qualidade das ações sustentáveis, bem como a capacidade de resposta das organizações para com os questionamentos sobre o referido tema. 

Em entrevista exclusiva para o Responsabilidade Social.com, Leite faz duras críticas aos relatórios divulgados e afirma: “Vejo que alguns balanços são mais panfletos de boas intenções do que realmente algo capaz de facilitar as análises do processo de gestão das empresas”. Leia e entrevista na íntegra.

1) Responsabilidade Social – O senhor é um dos responsáveis pelo blog “Testando os limites da sustentabilidade”, cujo o objetivo é analisar a qualidade dos balanços de sustentabilidade apresentados pelas empresas. Como esse espaço foi pensando e desde quando ele está no ar?

Roberto Leite – O blog foi desenvolvido como um espaço de discussão entre as pessoas que se interessam pelo tema de como os balanços de sustentabilidade das empresas se sustentam. Notamos que muitas empresas não estão preparadas para responder aos questionamentos que elas mesmas levantaram em seus relatórios. 

Em muitos casos é muito complicado e penoso conseguir uma resposta e o nosso blog revela até uma certa dificuldade que a sociedade possui em obter certas informações. Algumas empresas até me perguntam por que queremos determinados dados. Eu sempre respondo: ‘Porque vocês publicaram’. O blog está no ar desde agosto de 2010 e estamos impressionados com o retorno das pessoas e o interesse pelo tema. 

2) RS – E qual é a sua opinião sobre a qualidade dos relatórios de sustentabilidade atualmente?

RL – Não sou auditor ou especialista para dar meu parecer, mas como um leigo que se interessa pelo tema, vejo que alguns balanços são mais panfletos de boas intenções que realmente algo capaz de facilitar as análises do processo de gestão das empresas. Nota-se que a parte financeira é cheia de gráficos e indicadores, já a parte ambiental e principalmente a social são um conjunto de informações soltas e projetos que não comprovam a eficácia da ação. 

3) RS – A abertura de informação pelas empresas parece ser parte de qualquer estratégia de sustentabilidade. Isso está realmente mudando o perfil de investimentos?

RL – Sinceramente não. Ainda não vejo isso como um indicativo de investimento. Pergunte para a Bovespa [Bolsa de Valores de São Paulo] qual o critério para uma empresa estar no ISE [Índice de Sustentabilidade Ambiental]. Sustentabilidade não é o critério principal (http://testandooslimitesdasustentabilidade.blogspot.com/search/label/bovespa).

Se eu fosse um investidor interessado em sustentabilidade não usaria o ISE como referencial. Quantos economistas hoje entendem de desenvolvimento sustentável? Investimentos sustentáveis é uma política de mudança de cultura de longo prazo. Estamos muito no começo.

4) RS – Quais as principais mudanças que o senhor observou em relação aos balanços apresentados ao longo do tempo?

RL – Os balanços ficaram mais padronizados pelo GRI [Global Reporting Initiative], o que facilitou a comparação e busca por respostas e consequentemente resultados. Graças ao índice do GRI você pode focar as análises nos dados corretos sem se perder no meio de fotos bonitas.

5) RS – O senhor poderia citar algumas empresas, que na sua opinião, têm práticas socioambientais consistentes? 

RL – Fíbria, Natura, Petrobras e Vale. Entre os bancos, que têm muito que melhorar ainda, cito o Bradesco e o Bando do Brasil, apesar do atendimento ser horrível. 

6) RS – O blog também busca discutir sobre as ações de sustentabilidade divulgadas pelas empresas para que a sociedade possa cobrar um posicionamento dessas instituições. O senhor acha que os consumidores realmente têm o poder de mudar as companhias?

RL – Têm sim muito poder. Com uma posição simples: Não compre mais. As empresas têm que entender que quem rege o mercado não são os investidores, mas os consumidores. Algo só existe porque a gente compra. 

7) RS – E como o senhor avalia os consumidores brasileiros hoje? Já é possível considerá-los conscientes?

RL – Não. Estamos muito longe disso. Vivemos uma explosão de consumo, o crescimento da classe ‘C’ levou várias pessoas a um patamar de consumo que dificilmente a curto prazo vai levar a algum nível de consciência socioambiental e não podemos julgá-los por isso. Seria injusto, eles têm tanto direto de consumir quanto as classes A e B.

Vejo que essa consciência tem que partir de início entre aqueles que já estão satisfeitos com o que consomem e com isso possuem poder para negociar condições mais justas e sustentáveis no fornecimento de produtos e serviços. Tudo é um processo muito lento, mas que pode ser mudado e depende de cada um de nós.

8) RS – O que o senhor entende por responsabilidade social?

RL – Responsabilidade social é quando uma organização sabe quais são os seus impactos na sociedade e trabalha ao máximo para minimizá-los. Ser socialmente responsável não é abraçar árvores e levar o Papai Noel para visitar crianças carentes, mas saber que seu processo de gestão impacta a vida de várias pessoas e que sua responsabilidade é inerente em trazer qualidade de vida para todos, passando pelo funcionário, consumidor, fornecedor, comunidades e tantos outros.

FONTE: http://www.responsabilidadesocial.com/article/article_view.php?id=1237

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