A ONG de 21 anos demitiu oito funcionários devido ao déficit de R$ 886,5 mil apresentado em 2011
Pela primeira vez, em duas décadas de existência, a Escola de Dança e Integração Social para Criança e Adolescente (Edisca) teve de enviar alunos de volta para casa. Com um déficit de quase R$ 886,5 mil em 2011, a Organização Não Governamental (ONG) precisou cortar custos. As aulas agora acabam mais cedo e foram suspensas às sextas-feiras. Oito funcionários foram dispensados e 60 alunos, de um total de cerca de 380 crianças e adolescentes, foram desligados.
A ONG, que atendia a um total de 380 crianças e adolescentes, perdeu recursos originados exterior e, agora, tentar buscar verbas no Estado FOTO: VIVIANE PINHEIRO
“A Edisca tem 21 anos de vida e esse 21º ano é o mais desafiador que nós tivemos, mais do que o primeiro, mais do que qualquer outro”, diz a bailarina Dora Andrade, idealizadora e diretora da Edisca. A ONG atende crianças e adolescentes de oito a 19 anos em situação de risco de cinco comunidades da Capital. A companhia já se apresentou em várias cidades do País e do exterior, como Paris e Nova York.
Segundo ela, o problema financeiro já se delineia há cerca de cinco anos, não só na Edisca, mas em várias entidades do terceiro setor. Mudanças no cenário internacional, com a crise econômica na Europa e Estados Unidos, acabaram pulverizando os recursos recebidos do exterior. “Essas organizações reconhecem que o Brasil tem problemas sociais, mas acreditam que já possui capital intelectual e financeiro para dar conta de suas questões”, explica.
Os investimentos estrangeiros migraram de um Brasil, que cresce economicamente, para países carentes da Ásia e África. Além disso, nos últimos anos, algumas empresas privadas criaram seus próprios institutos e fundações. “Isso pulveriza os recursos, que já não são muitos”.
A escola se mantém com patrocínios privados e públicos, além de contar com parceiros estratégicos. Ainda assim não é suficiente para arcar com o orçamento anual de R$ 1,2 milhão – auditado voluntariamente e publicado todos os anos. Transporte, alimentação e pessoal são os gastos mais pesados.
Consultoria
Há dois meses, a entidade conta com uma consultoria, em fase de diagnóstico da situação, para tentar equilibrar as contas. Após dispensa de funcionários e corte de gastos, chegou-se a uma medida mais extrema. “Retirar essas 60 crianças foi absolutamente traumático para nós”, lamenta Dora Andrade
Cada criança que deixa a Edisca não abandona somente as aulas de dança. Os alunos recebem vale-transporte e fardamento, participam de programas de nutrição e saúde, têm acompanhamento de frequência às aulas e contam com um projeto de fortalecimento do ensino formal. Parcerias garantem aulas de inglês.
Wesley Cândido, de 17 anos, conta que a Edisca fez dele uma pessoa mais responsável e comprometida. Desde que viu uma apresentação de dança pela primeira vez, aos dez anos, decidiu que queria seguir essa carreira – a exemplo de vários egressos da Edisca, que deram continuidade aos estudos e hoje atuam na área como bailarinos e professores.
Nas duas últimas semanas, Dora resolveu ir a campo. Marcou reuniões representantes do comércio e da indústria em busca de parcerias dentro das leis de incentivo à cultura. Os primeiros retornos já apareceram: um telefonema do governador Cid Gomes se comprometendo a ajudar e um investimento de R$ 200 mil da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), no âmbito da Lei Rouanet.
A expectativa da diretora Dora Andrade é que, no fim do semestre, a Edisca esteja minimamente reorganizada de maneira sustentável.
Fonte: Diario do Nordeste
Compartilhe