Por Juliana Santana*
Nascido no país em meados do século XVI com a instalação da Santa Casa de Misericórdia, na Vila de Santos, o voluntariado assumiu ao longo dos séculos contornos ousados e revolucionários. Se antes, a nobre atividade de doar o tempo, recursos humanos e financeiros em benefício do bem comum, cumpria a função de minimizar o sofrimento dos desprovidos – dando a estes assistência e suporte para uma vida digna – agora o movimento que envolve os diversos setores da sociedade, comporta-se como um importante agente de mudanças nas esferas pública e privada. É possível que, no Brasil, o divisor de águas entre o voluntariado de caráter meramente filantrópico e o ator social comprometido com a promoção do desenvolvimento comunitário tenha sido o processo de redemocratização, ocorrido no final da década de 80.
Com o surgimento das ONGs – organizações não-governamentais – entidades da sociedade civil voltadas para as questões de interesse público – a reivindicação dos direitos do cidadão e a defesa do meio ambiente foram institucionalizadas. Ganharam, portanto, mais força no cenário nacional e global. Na esteira destas mudanças é que o voluntariado corporativo ganhou musculatura. As empresas estão cada vez mais tomando consciência do seu papel na sociedade; de que podem assumir a responsabilidade de promover o desenvolvimento também àqueles que não estão em seus quadros funcionais. E, que, ao agir desta forma, não só contribuem para a construção de uma sociedade mais justa, como também – e principalmente –, crescem com o aprendizado adquirido nestas novas experiências.
Ao romper os muros que delimitam fisicamente suas unidades, as empresas encontram um mar de conhecimentos que passa pelo resgate de valores essenciais à vida e aos negócios: o respeito, a solidariedade, a dignidade, a ética. Os subprodutos da ação voluntária, quando genuinamente praticadas nas organizações, são: a melhoria do clima organizacional; a integração efetiva entre as pessoas nos âmbitos pessoal e profissional; o desenvolvimento de habilidades como comunicação, liderança, trabalho em equipe; a descoberta de talentos individuais que promovem o crescimento coletivo; o aumento da produtividade e racionalidade dos processos; o estabelecimento de vínculos com a comunidade e o poder público local; entre tantos outros. Mas, acima de tudo o voluntariado promove a humanização das relações: entre os homens e do homem com o meio ambiente. E estas também são questões cruciais para as empresas. As organizações são formadas por pessoas.
Quanto mais harmoniosas forem as relações estabelecidas entre elas, mais efetivos serão os resultados gerados nestas interações. Paralelo a isto, as organizações dependem, em primeira ou última instância, dos recursos naturais para produzir. Muitos deles são finitos. Rediscutir o modelo de atuação para assegurar a sobrevivência no longo prazo, torna-se, portanto, uma questão premente. E, envolver todas as pessoas voluntariamente nesta discussão pode ser a prova suprema da sagacidade. Que o voluntariado ocupe, portanto, o nobre lugar da promoção do desenvolvimento da sociedade a partir do resgate de valores que devem nortear a essência humana.
*Juliana Santana é coordenadora de projetos da Fundação Bunge
FONTE: GIFE
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